27 de ago. de 2014

No corredor da morte


Se for verdade que tudo tem começo, meio e fim, no corredor da morte a submissa espera... 
Boca seca, coração apertado, olhos vidrados, ar gélido no peito.. Até que chegue sua hora.

Um dia saí cedo pra buscar a calopsita da minha amiga Dani que ficaria comigo uns tempos porque o macho fugiu e ela estava morrendo de tristeza. Só ficava piando de uma forma dolorosa e no fundo da gaiola... Nem no poleiro queria subir. Enfim, fui buscá-la com a missão de lhe devolver a vontade de viver. Se conseguisse resgatar sua alegria, poderia pensar sério na possibilidade de um trabalho voluntário com animais que sofreram algum trauma, que já se recuperaram fisicamente, mas que ainda estivessem sofrendo de tristeza... quem sabe não seria este o meu caminho?

Coloquei a gaiola sobre o banco do passageiro e, enquanto dirigia vim conversando com ela. Conversando sim, porque por várias vezes ela esperou que eu calasse para me responder com um piado triste de dar dó. Argumentei que nem tudo era dor, que se lembrasse dos dias felizes, do companheirismo... E tentei explicar que é dos homens a necessidade de “voar”... que eles precisam sempre tentar outros ares. Disse também que ele, onde estivesse, se ela tinha certeza de ter sido uma boa companheira, certamente não a esqueceria. Mas, ela só sabia lamentar... Piii tuuuuuuuu..... Piii tuuuuuuuu..... Piii tuuuuuuuu..... Eu compreendi... E vim pensando que, embora seja simplesmente divino ser mulher... (e se houver outras vidas quero sempre voltar mulher...), estamos todas condenadas ao sofrimento do amor... Sejamos lá o que formos: escravas, submissas, baunilhas... calopsitas.


É, minha amiga, nenhuma de nós passa impune.. Não mesmo. Algumas, com um instinto maior de sobrevivência, ao verem ceifadas suas relações logo engatam numa outra... Talvez numa tentativa de fugir da dor. Não é o meu caso. Preciso de um tempo pra digerir. Mas, acho que fazem até muito bem as que procuram logo outra pessoa... Já dizia minha avó: “Um amor só se cura com outro”... “Rei morto, Rei posto”. Não sei e nem vou julgar ninguém, cada um sabe de si e ninguém tem o direito de censurar. 

O fato é que, diferenças à parte, tanto faz se somos Paulas, Renatas, Valérias, Marias, ou até Ninas (nome da calopsita abandonada pelo macho), tanto faz também se somos escravas, submissas, cadelas, putas, meninas, brinquedos, masoquistas, baunilhas apimentadas ou sem pimenta... Até calopsitas... porque não? Mais cedo ou mais tarde estamos todas condenadas à dor. Tanto faz o estilo de vida, status sócio-econômico cultural, tanto faz a idade, ou o tipo físico, vivemos todas no corredor da morte.



Não, não sou dramática e muito menos pessimista, eu não espero o pior. Apenas parei pra pensar como dói lembrar que a qualquer momento tudo pode acabar. E não venha me dizer: "_Ah.. entao não pense nisso agora!" Te garanto que prefiro a lucidez, por mais que doa, do que viver no mundo da lua.

E me parece que quanto maior é a entrega e a doação de si mesma, maior será o sofrimento. Não mais estarmos ajoelhadas diante do Dono, não termos mais sua mão a segurar a guia da nossa coleira, nem sua vontade sobre a nossa. E não encontrarmos nossa imagem no espelho, porque no espelho tudo que veremos será a sua face amada, esta será uma dor impossível de se descrever.
Mas, por favor, não vamos nos ater ao sofrimento. Vamos pensar nas maravilhas de “pertencer”. E, se no corredor da morte o que nos acomete é uma dor infinda, o tempo de servidão, por mais breve que seja, nos permite viver o nirvana e compensará todas as dores presentes e futuras.



Eu trouxe a calopsita Nina pra minha casa. Dediquei à ela mais tempo do que normalmente dedico a cada um dos meus animais diariamente e a coloquei próxima ao viveiro onde tenho outras calopsitas e periquitos para que ela estabelecesse ligações de amizade com eles e desejassr se mudar pra lá. 

Por uns dias ela ficou pensativa... tímida. Mas, pouco tempo depois, a mudança pode ser feita para o viveiro e lá ela permaneceu por muitos anos... Piando... Piando... Mas, de alegria. Até um dia desencantar.




AmarYasmine do SR DIABLO

*sempre encantada por ELE*

7 comentários:

Rebeca disse...

Calopsita ou não, todas somos passíveis de sofrimento, amor, tristeza e felicidade.

Cada uma sabe da sua dor e da maneira de lidar com ela.

Algumas pessoas não se entregam totalmente, já pensando no final.
Outras, se entregam abertamente: amam, choram, riem...vivem.

Prefiro viver.
E se houver sofrimento depois....pelo menos eu tenho a certeza que dei o meu melhor, que fui sincera com meus sentimentos, e que novos dias virão.
Sempre amanhece...

Beijos!!

Rebeca

{Λїtą}_ŞT disse...

Muito profundo esse texto por tratar de um sentimento que todas nós temos. Essa insegurança, esse andar na corda bamba, a sensação de nunca pisar em solo firme.
É a natureza das relações D/s. Vivemos na pele o que muitos só acham lindo na teoria:

"Deixa voar. O que é teu, volta".

No caso, deixamos voar o que nem é nosso e não sabemos se vai voltar. Mas quando voltam, é pela mais genuína e espontânea vontade... e isso não tem preço.

Lembro da Nina e de quando ela desencantou tão silenciosamente. Talvez tenha se lembrado dele nessa hora.

Beijos, amada.

Anônimo disse...

mais um texto seu belíssimo querida Amar,
e é tudo verdade. são as dores e alegrias de sermos o que somos.
submissas, escravas, baunilhas, calopsitas ou qq outro animal, como vc bem mencionou no texto. Somos mulheres, fêmeas e a dor é inevitável.Tanto a dor de pertencer como a dor de perder.
adorei o parágrafo que diz da maravilha de pertencer, da dor infinda do tempo da servidão e do nirvana que nos permite e compensa todas as dores.
beijos amiga

úlima

umbra disse...

Profundo!!
E...revelador tambem.
Beijos doces.

Anahi disse...

Que lindo!!!

aimee disse...

"Quanto maior a entrega, maior é a dor"
Real, absoluto!

{ÍsisdoEgito}JZ - Tua, somente tua disse...

Na verdade, sofremos mais que uma vez, porque:
Sofremos pela entrega dos N/nossos Dono que se foi, mas entregou-se tanto quanto a cadela escrava submissa Dele;
Sofremos dolorosamente e intensamente pela nossa entrega;
Sofremos pelo que tivemos e noa teremos mais;
Sofremos por deixar de pertencer e por aí vai...

Rico, verdadeiro, reflexivo e doloroso texto.

Somente quem se entregou e teve a entrega do outro lado e perde isso, sabe com esse sofrimento é vazio, é angustiante, é mortal.

Pelo menos comigo é assim.

Beijos às escravas e submissas deste lindo blog.

ÍsisdoEgito