14 de set. de 2015

A puta e a submissa


Ela não sabia, ela tinha se escondido a vida toda para que ninguém tivesse acesso àquela que julgava tudo o que não queria ser. Se transformou, se moldou, se condicionou a tudo o que os outros queriam dela.

Altiva, imponente, autoritária, alegre, diziam até mesmo que tinha sua própria definição e categoria. Ela era admirada, cortejada, era mais que isso... ela era temida, ninguém ousava confrontá-la, ela só se dobrava à quem queria, desejava, mas só àqueles que não fossem capazes de ultrapassar a linha invisível... ela sabia que poucos poderiam ver, afinal, as pessoas não enxergam além, elas vão até certo ponto, elas não vão além, dá trabalho... era um corredor muito escuro a sua alma, e tinha uma porta escrito NÃO ULTRAPASSE, ninguém ultrapassava, ninguém sabia o que tinha lá dentro, apenas ela...


Era aquela pessoa, naquele quarto, completamente escuro, e ela ficou lá, se acostumou com o escuro, seus olhos se adaptaram, ela ficava ali, sentada, a vida toda abraçada aos seus próprios joelhos, no cantinho escuro, ali ela estava tão sozinha, e ao mesmo tempo tão protegida, enquanto a outra dançava, se mostrava, ia na frente; a outra a encantava, era tudo o que ela precisava, a outra não chorava, apenas se virava e continuava... a outra era sua armadura, sua proteção, a outra era a parte indestrutível dela... essa outra podia ser o que quisesse, essa outra era a versão do inferno, e queimava.

A outra tinha, muitas vezes, que ser a puta, mas ela não se dobrava, mesmo quando puta se impunha e fazia com que os homens a quisessem, eles a dominavam enquanto ela queria, ela dava prazer, ela não precisava de prazer, o prazer era apenas o poder que ela tinha de tirar o prazer, ela sabia que não era o suficiente, sabia que não a nutria, mas ela precisava continuar, ela não podia parar, aquela bebê medrosa e sem graça não podia sair de onde estava.

Eles diziam tantas coisas, a puta sorria, dizia que era isso mesmo, diziam que iam mostrar o que ela realmente era, uma puta, vadia sem vontades, submissa e escrava às  insanidades do “Dono”.... ela seria exposta, seria humilhada na frente dos amigos para que soubessem quem era ela na verdade, ela não se importava, ela se condicionava e aguentar aquilo, até acontecer ela pensaria em algo.


Mas um dia Ele chegou... Ele foi bem devagar e disse que não desistiria, ela dizia “não quero”... “não posso”... mas Ele a ignorava e foi entrando, não teve medo do corredor escuro e nem leu o que tinha na porta, ele entrou e a viu, ela foi para o outro canto, Ele ficou rondando, a acompanhava em cada canto que ela tentava se esconder, se sentou do outro lado da sala, Ele a viu e a quis... enquanto isso a outra, desesperada, tentava fugir, mas a bebê Dele não... pela primeira vez ela olhou para alguém e foi chegando perto e mais perto...

A fortaleza que se fazia de puta ficou sozinha, a vadia estava perdendo as forças, ela lutava, mas Ele dizia que a bebê Dele ganharia dela, mas elas não queriam se confrontar, a puta, a vadia, a cadela na verdade nem existiam, elas apenas eram o que os supostos donos queriam que fosse, e ela se moldava, como um camaleão frente ao perigo, Ele não quis saber, ele queria a mocinha do quarto escuro.

A outra foi na frente, o conheceu, tentou se impor, era tudo em vão, Ele ria dela...

Um dia a outra olhou e viu a mocinha no colo Dele, recebendo carinho, sendo mimada, cuidada, percebeu e sentiu o quanto ela ficava tranquila e em paz naquele colo, ela até sorria, se iluminava deitada no colo do seu Dono.


Então a puta viu que havia chegado a hora de ir, pq ela perdeu todas as forças, ela não conseguiria mais ser “a puta”, sem carinho, sem amor, sem paixão, ela não conseguiria ser a vadia que fazia tudo e não recebia nada e escondia toda a frustração que sentia na “mocinha do quarto escuro”, essa por sua vez era boa em guardar desamor, a melhor... mas ela não estava mais ali pra isso, agora ela estava ali para Ele, e a puta podia ir embora, a vadia não ia conseguir mais interpretar... a cadela não tinha mais coleira... todas elas podiam ir embora...

Elas foram desaparecendo, uma a uma e a bebê Dele, a submissa Dele, só Dele, ficou naquele colo, ela não conseguiria mais, não conseguiria ser de mais ninguém.



Não critico, não julgo, não aponto o dedo, acho que cada um deve ser como quer, como deseja, como lhe dá prazer, mas quando há alguém escondido dentro da alma da gente, aquela pessoa que não quer ser a puta ou a vadia ou mesmo a cadela. Ela quer colo, ser cuidada e se sentir em paz, sentir que pode ser ela mesma, acredite, uma hora essa pessoa vai querer sair do quarto escuro. Muitas vezes nos deparamos com a adaptação, nos deparamos com o condicionamento dos nossos próprios sentimentos, o tempo passa e condicioná-los fica cada vez mais fácil, mas em determinado momento, se encontrar quem te encontre no fundo da alma, isso não será o suficiente.

Ser puta entre quatro paredes pra alguns é fácil, pra outros nem tanto... e para algumas submissas isso é impossível, e apesar de alguns criticarem, isso não é pecado ou errado, cada um tem um jeito de ser e é necessário ser respeitado. Quando a lágrima de uma submissa escorrer no rosto, e seu desejo for deitar no peito do Dono e ali ficar, chame de entrega, quando isso acontecer é pq nenhum outro vai conseguir chegar perto, e caso aconteça, ela estará se mutilando, se matando, e em pedaços ela vai querer voltar para o colo que a completa, que a conhece, mesmo com medo ou assustada, isso não é pecado, é perigoso sim... se mostrar demais é muito perigoso, mas ser você mesmo, é, também, um sentimento pleno e de valor incalculável.

Só queria dizer que não é pq alguém não gosta de ser puta, vadia, cadela, spanking, marcas, humilhação que não seja submissa, a submissão real está na entrega, a entrega que faz chorar a ausência, que faz de cada erro uma dor sem fim, e que se comparada a dor de mil chicotadas, ainda será maior.

Sei que muitos vão criticar, e mtos vão se reconhecer... seja como for... são palavras que jogo ao vento, e que ele as leve à quem for de direito.



Alessandra (†?Noelle¿†®)