20 de jun. de 2015

De Corpo e Alma


Muito se fala em alma submissa. Fala-se por admirar, por desejar ter tal vivência, por desacreditar, pra ofender e fala-se até por falar. 

Falar, com conhecimento de causa ou não, fala-se de tudo. O debate é livre para todos os assuntos. 

Mas, sem vivenciar a experiência, como falar com propriedade sobre algo que precisa ser vivenciado, sentido ou, ao menos, desejado?  Nesse sentido, tudo que é dito tem pouca ou nenhuma razão de ser, é infundado.

Submissão de alma, alma submissa, entrega por necessidade da alma. Alma, alma, alma! Tudo que se refere a um prazer mais abstrato, como o prazer de servir, de obedecer, de agradar e o prazer em dar prazer, acaba sendo levado, pelos que não o praticam, para o campo do irreal, fantasioso, absurdo ou sobrenatural. 

Fico me perguntando o porque desses prazeres causarem certa aversão em alguns.

Não é porque algo não me atrai ou porque não sou capaz de fazer igual ou melhor que vou em dedicar a provar que não existe para ninguém.

Talvez o problemas não esteja na tal da alma, mas sim na submissão. 

O BDSM é vasto e variado, é impossível alguém se identificar com tudo que há nele. É natural que alguns estilos, praticas, vivências ou filosofias sejam amados por uns e ignorados por outros. Ignorado, sim; desqualificado, não .  

A entrega do corpo é comum, desejada e apreciada por todos. Afinal, é ele que é usado, tocado, torturado e marcado. São os joelhos que se dobram, são as pernas que parecem bambear diante do Dominador, é a boca que responde 'sim, Dono' e é dela que saem os gemidos  de dor e prazer causados pelas mãos Dele. É o coração que dispara com uma palavra, um olhar e até com o silêncio Dele. Dos olhos brotam as lágrimas e das entranhas que escorre o prazer provocado por Ele. É o corpo que executa os comandos, que responde aos estímulos... O corpo fala, grita, implora, seduz... ele exprime as sensações, emoções, sentimentos... é ele quem carrega um coração cheio de amor e entrega.

O BDSM é toque, é cheiro, sabor, suor, carne, dor e prazer.  Até aí, tudo bem, qualquer um entende, aceita e pratica, mas, se passar disso já é coisa de outro mundo?  

Por o coração numa busca, realização ou vivência, entregar-se com paixão é igualmente natural e real. Um coração apaixonado, coração em festa, coração submisso. Essas, entre outras colocações figurativas, são claramente entendidas por todos como estado afetivo, emocional e condição de entrega. 

Dar sangue, suor e lágrimas para alcançar algo muito desejado é facilmente entendido como dar o melhor de si, como não medir esforços e mergulhar de cabeça para ir ao fundo de um objetivo.

Mas quando se fala em por a alma na entrega, logo vem o desdém, as distorções e o assunto é levado pro campo do sobrenatural, do irreal, fantasioso. 

A necessidade de mitificar a entrega não superficial é tão forte que parece mais com uma campanha contra algo ameaçador que uma simples descrença.

Cada um pratica o que deseja e que é capaz, entrega o que tem e vai até aonde se permite, mas a incapacidade, limitação e superficialidade de uns não invalidam as vivências e os prazeres de outros.

Querendo ou não, duvidando ou não, a entrega por necessidade da alma existe, e não vem do além, mas sim de dentro. 
Ela nasce do desejo, se alimenta do orgulho e do prazer de servir e se realiza em agradar.



luah negra
escrava, RJ