17 de mai. de 2014

Igualdade X Desrespeito


Após atravessar a linha divisória do lado baunilha para a submissão passamos a ter um olhar mais crítico sobre as relações baunilha, até mesmo para as que tivemos. 
A submissão nos confere um entendimento maior sobre essa dinâmica, não me perguntem o porquê, talvez seja pela depuração do olhar para o outro, o melhor entendimento dos processos do pensamento masculino em sua crueza e esplendor, o cultivo da temperança, da paciência para com essas diferenças ou a posição que ocupamos. 
Talvez o olhar de baixo, ao contrário do que se possa imaginar, nos dê uma visão mais privilegiada e a verticalidade das relações D/s, por nos libertar das comparações e anseios de igualdade nos levem a uma compreensão resignada que, longe de ser nociva, leva a um entendimento do outro nunca antes experimentado.
Relações baunilha são obviamente relações de igualdade. Não existe hierarquia, os dois têm os mesmos direitos. A questão aqui é até onde vão esses direitos nesse tipo de relação e onde se atravessa a fronteira da igualdade para o desrespeito, a invasão.
Numa relação D/s o poder é ofertado ao outro, é dado de livre vontade àquele que Domina e nesse caso qualquer atitude invasiva está plenamente justificada e, muitas vezes, desejada.
Numa relação baunilha, onde há um acordo implícito de igualdade de direitos, até onde iriam de fato esses direitos?
Falando especificamente pelo lado de cá (ou de baixo, como preferirem), o da mulher em relação ao homem - até porque é esse o único lado que conheço - o homem necessita de sua individualidade. Precisa ser um para estar bem a dois. Precisa estar consigo mesmo, antes de mais nada, para se relacionar bem com a parceira. "Nós" significa "eu e você", não uma unidade de dois.
"Vou encontrar um amigo de infância para tomarmos um chopp" não deveria vir acompanhado da pergunta "posso ir junto?"... por tratar-se de outra história, outra caminhada onde pode ser que não caiba intromissão.
Pesquisas indicam que o homem é diferente da mulher em sua essência. Não bastasse o lado físico, que é óbvio, existem as diferenças psicológicas, comportamentais; o homem com sua lógica e a mulher com sua abordagem emocional já torna difícil essa comunicação. Mais difícil será se tentarmos invadir esses espaços sagrados.
Sexo-amor-amigos-família-trabalho são nichos em que o homem se insere mas que geralmente coloca em espaços separados não misturando tudo em um só balaio como nós que queremos apresentar o companheiro às amigas, aos colegas de trabalho, à família e trazê-los sempre conosco para todos esses grupos. Eles separam. E muitas vezes desejam viver essas histórias separadamente fazendo uma ou outra concessão à parceira para participar desses nichos.
Nesse caso, escravas e submissas têm maior compreensão dessa dinâmica, da não-invasão desses espaços ficando a cargo e expressa vontade do Dono inserí-las ou não nesses vários contextos.
Hoje causa-me espanto ver mulheres que em total desrespeito ao parceiro revisam contas e aparelhos celulares, abrem correspondência, invadem contas de email etc numa evidente falta de respeito à individualidade do outro, ferindo sua  dignidade enquanto macho; práticas que hoje em dia a própria justiça já considera criminosas


O diálogo sincero sempre será melhor saída que esse tipo de violência invasiva que acaba por minar as relações.

Por isso, agradeço ter conhecido a submissão que me deu a oportunidade de perceber o quanto de desrespeito reside nessas atitudes, lição que levarei sempre comigo para a vida baunilha também.

Vita_ST 
Feliz propriedade do Senhor da Torre

15 comentários:

Unknown disse...

Devo confessar que nunca tive esse rompante de invadir a vida do parceiro baunilha, saber com quem sai ou onde está a cada segundo. Mas já fui alvo desse controle... aquilo que no mundo BDSM me encanta, no baunilha me transtornava porque as regras eram outras, as necessidades e acordos tácitos muito diferentes.

Mas vejo que, se há um limite para a vida baunilha, eu também tenho meu limite para o BDSM... minha entrega tem de ser regada a alegria, tem de ser divertida mesmo que tensa, tem de ser feliz. Minha entrega tem de ter em troca um aceite de responsabilidade que se torna também um tipo diferente de entrega do outro lado.

Adorei tua abordagem... beijos

{Λїtą}_ŞT disse...

Maya Doll

Obrigada por vir. Quanto ao assunto em questão... quem nunca?
Mas hj vejo o quanto de desrespeito à dignidade do outro tem nesses atos e me sinto feliz por ter me libertado desse tipo de atitude, de ter compreendido o qto de violência velada nisso tem nisso.
Concordo com vc que a entrega, guardadas as devidas proporções, deve ser mútua e deve nos fazer felizes, do contrário não tem razão de ser... mesmo que o conceito de felicidade seja muito diferente de uma pessoa para outra.
Beijos e obrigada :)

ternura disse...

Vamos as confissões: na vida baunilha já invadi e tive minhas individualidade/privacidade invadidas.

Hoje, na vivência de minha submissão aprendi a conter meus ímpetos de invasão de privacidade e procuro, dia-a-dia, demarcar um limite para proteger minha privacidade na vida baunilha.

Aqui no BDSM, numa D/s continuo encantada pela hierarquia, pelo poder e pela atitude invasiva ofertados com muita resignação e devotamento ao Outro.

vita amore meu....Tbm gostei muito do seu artigo. Parabéns!! bjs




{Λїtą}_ŞT disse...

ternura, a história é sempre essa, acabamos por mudar o comportamento e atitudes e isso é um ganho para a vida em geral, não apenas na submissão, é claro. Por mais que existam discordâncias muito me orgulho dessa melhor compreensão das coisas... mas claro, estava falando de outro tipo de invasões, as que "sofremos" são mais que desejadas :P
Obrigada por vir... beijos e saudades sempre.

Unknown disse...

Vitinha!!!

Entrei no BDSM, para vivenciar meus obscuros desejos sexuais.

Não pensava em ser cuidada ou tratada feito um bibelô, o BDSM também pra mim, nunca foi uma "fuga da vida baunilha". Pra falar a verdade, nem sabia o que era direito.
Algo cru e carnal mesmo (e continua sendo, hehehehe), mas nunca pensei que pudesse me trazer algumas verdades. Verdades...duras ou não. Sentimentos. Sinceramente? Nunca, jamais pensei. Olha só como são as coisas.

Eu via tudo como uma experiência sem maiores consequências. No decorrer desse caminho, fiz pequenos progressos como ser humano.

E é isso que me encanta na submissão, na relação de D/s...em sua vivência concreta. Essa possibilidade de existir melhoras em essências permeada de falhas e erros. E isso vale realmente a pena!!! Vale mesmo!

Sua reflexão nos mostra como isso é possível. E leva tempo. Tempo e paciência, como sabiamente disse. Conseguiu expor em palavras como sempre, de como é possível haver grandeza em uma relação dessa natureza.

Pois submissas, uma vez reconhecidas, procuram por sua fortaleza interior. Não são e jamais serão vítimas.

Ahhhh, amei a música nova!
Novidade...o gosto musical da Amar me deixa com os "zóios briando sô" Ou seria os "zuvidos"???!!!
Bora repetir o play até cansar! Kkkkkkkk.
*-*

Beijos!!!
{perséfone core}_DC

{Λїtą}_ŞT disse...

Persérfone Core, minha amadinha, taí uma coisa com a qual aprendemos a conviver: as verdades duras, indigestas, mas que proporcionam um crescimento enorme e no fim de cada uma, paz interior.
Libertar-nos de certos comportamentos traz essa paz.
A música está deliciosa sim, Amar caprichou, eu tb não me canso de ouvir.
Beijos e saudades

{W_[Amar Yasmine]} disse...

miVitAmada!

Que ótima ideia vc teve em escrever sobre este tema. E que lucidez ao escreve-lo. Impressionante as lições que aprendemos no exercício do BDSM. Tanto nós, submissas, quanto quem nos domina.

No mundo baunilha, por mais comprometidos que formos, o exercício do respeito à indidualidade do outro se restringe apenas à teoria. No BDSM temos a chance incrível de vivenciar na prática. É muito mágico.

E veja só, amada, justo a sociedade baunilha que nos discrimina tanto, sequer imagina que colocamos em prática o que ela determina como sendo ética... já pensou nisso, amada?
Beijos de admiração e carinho!

Amar do SENHOR DIABLO

{W_[Amar Yasmine]} disse...

Voltei pra dizer que acredito piamente que a forma como nos comportamos no BDSM como submissas, será a mesma como nos comportamos no baunilha.

De forma alguma acredito que possa ser diferente. Seja lá onde estivermos, a nossa natureza sempre ditará as regras para nós.
Por favor, me corrijam se eu estiver errada.
Beijos!

Amar do SENHOR DIABLO

{Λїtą}_ŞT disse...

Amada Amar do Sr. DIABLO, é mesmo isso, vivenciamos na prática tantas coisas que na vida baunilha as pessoas passam por cima e nos discriminam.
Vc está certíssima quanto ao comportamento, concordo assim como acrescento que uma lição aprendida, uma mudança no comportamento é um ganho para a vida em geral, não para se aplicar apenas aqui. Quem respeita o próximo, respeita em qualquer lugar e situação.
Obrigada por vir e pela gentileza de comentar.
Beijos de quem te ama

{W_[Amar Yasmine]} disse...


Meninas lindas do meu coração!

Este comentário é sobre a música que escolhi para este momento do blog e que vcs estão gostando tanto, tenho recebido os recados.

A cantora é nada mais, nada menos, do que Vanessa Paradis, uma belíssima mulher que entre outras curiosidades foi casada com o ator de cinema, também maravilhoso, Johnny Depp (Edward Mãos de Tesoura e quase todos os filmes do Diretor Tim Burton).

Adoro Vanessa Paradis, sua voz é muito rara pq vai de um grave muito baixo a um agudo também espetacular. Além da voz deliciosamente sensual, ela é excelente intérprete e sabe, como poucas, escolher o repertório.

Todas as músicas que ela canta são muito boas, tanto melodia, ritmo e letras. Além dessas qualidades ela é uma apaixonada por Jazz, sobretudo por um músico dos melhores que é o grandeChet Baker, que ela homenageia aqui nesta música. A letra é sensacional.

Vanessa Paradis tem dentinhos separados e é linda. Ela foi casada muitos anos com o, também maravilhoso, ator Johnny Depp (Edward Mãos de Tesoura e muitos outros.

Esta música já esteve no meu blog dezenas de vezes, sou apaixonada por ela. Vou postar o vídeo com a letra em franccês e a tradução na minha linha do tempo do Face. Fiquem atentas.
Beijos musicais a todas!

Amar do SENHOR DIABLO

{Λїtą}_ŞT disse...

Muito linda mesmo a música, amada. E ficou mais ainda com todas essas informações sobre a cantora.
Resta agora a nós todas, meninas queridas, pedirmos a Amar para por aqui uma seleção INTEIRA de músicas da Vanessa Paradis... rsrs.

Beijos, amada... e a todas as outras

Viking_Sp disse...

Delicioso ler seu post. Expressando minha opinião como homem, como um ser humano criado em uma sociedade não anarquista, onde há hierarquia.
A igualdade muitas vezes causa esse confronto de ideia, poder e realmente as vezes da asas para ver coisas onde não há nada.
Vejo o BDSM como uma poesia, como uma vida que se escolhe seguir, e com essa escolha, se entrega na mão do Dominador, deixando-o julgar o certo e o errado, te fazendo confiar, acreditar e viver. E quando consegue encontrar esse Dono, onde se entrega, e dá ao seu Dono, o controle de suas emoções e acredita em seu julgamento, faz com que seu Dono encontre conforto único para viver como homem, sabendo que tem a seus pés uma submissa única, de forma que involuntariamente queira cada vez mais cuidar, doutrinar, às vezes punir dar atenção, disciplina e claro, o famoso after care, conhecido como carinho, pela sua submissão, por ver que é por ele que ela serve que vive e se entrega.
Lindo seu post, já foi passado para frente. COMPARTILHADO :)

{Λїtą}_ŞT disse...

Muito obrigada, sr Viking_Sp. Suas gentis e tão amáveis palavras soaram como uma redenção em um momento em que recebemos críticas a todo momento por essa ideia de submissão como se fôssemos seres fracos, sem vontade e sem personalidade, ignorando o quanto de força é preciso para submeter-se verdadeiramente a alguém e o quanto isso pode ser sublime para ambos os lados.
Sem mais a dizer, pois seu comentário encerra a exata compreensão do que quis passar no texto, somente agradeço e convido-o a visitar-nos sempre, ficaremos muito felizes.
Abraços respeitosos

Anônimo disse...

Vita, minha só minha todinha minha... rs
Não dar privacidade para que o outro tenha sua individualidade é mesquinho; é o caminho mais certo para destruir um relacionamento.
É possível tolerar essas atitudes, mas por quanto tempo? Um dia as pessoas cansam. Cansam de deixar de lado as suas prioridades pra satisfazer a prioridade do outro. Digo isso da vida baunilha, porque no bdsm é outra história; o controle é concedido.
Só agradeço por você ir tão fundo nas questões.
Beijos da super espiã (kkkkk)
Bia de Melbor

{Λїtą}_ŞT disse...

Bia de Melbor, minha espiã preferida, se vc já existisse na época de Mata Hari ela não teria entrado pra história ;)
É, eu tb acho que esse tipo de cerco cansa. Por mais que pareça bonitinho e desejável por um tempo acaba por se tornar sufocante.
Não é nosso caso, cedemos o poder, gostamos de controle, gostamos de pertencer mas somos o outro lado da história.
Aos passarinhos, asas.
Beijosssss da sua só sua todinha sua...