14 de jul. de 2014

Refletindo com Walcyr Carrasco

Saudações a T/todos!

O texto a seguir, escrito por Walcyr Carrasco em 2012 e reproduzido aqui em nosso espaço, retrata uma realidade que é e será real por muito tempo no mundo baunilha: o preconceito com mulheres vivendo relacionamentos com diferença expressiva de idade com o parceiro.
Embora o texto trate apenas das mulheres mais maduras, o preconceito existe também em relação às mais jovens. 
Se a mulher madura ao se relacionar com um homem mais jovem está sendo vítima do chamado "golpe do baú", a mulher jovem que se relaciona com um homem muito mais velho está aplicando o golpe.

E no BDSM, será que vivemos essa mesma realidade? 
Você já sofreu esse tipo de preconceito?
Leia e dê sua opinião...

O charme da mulher mais velha


Tenho um amigo jovem, bonitão e bem de grana que só gosta de mulher mais velha. Aos 28 anos, prefere namorar as com mais de 40 e já se declarou para uma de 54 – que não quis saber dele, por já ter outro envolvimento. É alvo de piadas o tempo todo: dos amigos, parentes, irmãos. Até do pai já ouviu conselhos contra uma recente namorada.

– Não fica bem. Vão pensar que é sua mãe.

Se não fosse sua boa situação financeira, passaria por outros vexames. Diriam, no mínimo, que é um golpista, interessado em dinheiro. Acompanhei como jornalista o início do namoro da cantora Angela Maria, aos 51 anos, com Daniel D’Angelo, de 18. As maledicências em torno dos dois eram absolutas. Notas maldosas circulavam pela imprensa. Diziam até que ele ia fugir com o dinheiro dela. Isso aconteceu há 33 anos, quando ainda não havia internet. Imaginem se fosse hoje! Estariam em todos os sites de fofocas, diariamente. Cheguei a ouvir de outros colegas de trabalho:

– O garoto está dando um golpe na coitada.

O tempo provou o contrário. Estão juntos desde então. Oficializaram a união em maio deste ano, depois de mais de três décadas de relacionamento, ela com 84, ele com 51. Também com idades diferentes, a apresentadora Marília Gabriela e o ator Reynaldo Gianecchini tiveram anos de vida em comum. Na época, uma prima minha comentou, venenosa:

– Mais cedo ou mais tarde ele separa.

Quando dizem que um rapaz está com a mulher mais velha só por interesse, é puro preconceito
  
Como se casais da mesma idade também não se separassem! Recentemente, quando Gianecchini adoeceu, Marília Gabriela ofereceu apoio e dedicação, provando que a relação foi significativa para ambos.

Quando alguém afirma que um rapaz mais novo está com a mulher mais velha por interesse material, está na verdade dizendo que ela não teria nenhuma qualidade pessoal para atraí-lo. É puro preconceito. Se um homem mais velho se relaciona com uma gatinha, é aplaudido. Dá a impressão de que, apesar da evolução de costumes, a mulher ainda é criada como Cinderela, para encontrar um príncipe. Ou melhor ainda, um rei, mesmo velhusco. O homem é elogiado pelos amigos:

– Descolou uma gata!

– Que sorte você tem!

A mulher madura que assume o relacionamento com um rapaz não é bem-vista. Os problemas começam dentro da família. Conheci uma senhora paulista, dona de um restaurante e divorciada, que se apaixonou pelo cozinheiro vindo de Manaus. Foi uma loucura. Os filhos, já adultos, ameaçaram sair de casa. Ela insistiu e casou, apesar da pressão não só dos filhos, como também de ex-marido, irmãs, mãe. Anos depois o cozinheiro morreu. Constatou-se que era ele o responsável pelo sucesso do restaurante, de especialidades amazônicas. A família foi à falência. Fechou. Hoje, mãe e filhos sobrevivem à custa da modesta pensão deixada pelo cozinheiro, tão vilipendiado na época do casamento.

Encontrei outra amiga, ex-modelo e muito rica, com seu jovem namorado. Ele não poderia ter melhor comportamento: no avião, acariciava suas mãos, porque ela tem medo de voar. Quando dei a notícia do namoro a uma amiga em comum, ela desdenhou:

– Só pode estar atrás do dinheiro dela.

E se a situação econômica for desequilibrada, qual o problema? Em todo casal, um ganha mais, outro menos. Hoje em dia, muitas mulheres têm carreiras de sucesso. Por que não podem, se apaixonadas, sustentar o marido mais jovem, que ainda está iniciando a vida profissional? Vou mais longe: mesmo que ele não trabalhe, qual o problema? Se um homem pode sustentar a jovem com quem se casou, porque a mulher de sucesso não tem o direito de fazer o mesmo? “Gosto da beleza das mulheres maduras”, disse o amigo que citei no início. “Também quero um relacionamento mais profundo, e a experiência de vida ajuda muito.”

É incrível como o preconceito se oculta nas dobras da vida social, pronto para atacar quando menos se espera. Vive dentro de cada um de nós, se incorpora a nosso modo de agir e pensar. Conheço muitas mulheres solitárias que evitaram relacionamentos por medo do que poderiam dizer. Da rejeição social. Ou até por desconfiar das intenções do rapaz:

– Ele só pode estar interessado em alguma coisa.

Não conseguem acreditar que ele pode estar interessado nela mesma, sem nenhum outro motivo.

A mulher já realizou muitas conquistas. É respeitada profissionalmente, já consegue exercer altos cargos numa empresa. Temos até a presidente Dilma. Mas a mulher ainda precisa conquistar o direito de amar quem quiser, quando e como bem entender. 


WALCYR CARRASCO
é jornalista, autor de livros, peças teatrais e novelas de televisão



{Vita}_ST
Feliz propriedade do Senhor da Torre

8 comentários:

ternura disse...

Assunto muito pertinente para nosso Universo.

Aqui e agora vou manter meu raciocínio apenas no BDSM.

Falando por mim. nunca tive preconceito para com os outros. No entanto, já evitei me relacionar com Doms mais novos.

Veja vc. Sou tão defensora de tantas bandeiras e caí na minha própria cilada preconceituosa, ficando com achismo q Dom mais novo não saberia me conduzir.

Ainda bem q mergulhei de cabeça em minha condição submissa. A qual me ensina todos os dias um novo aprendizado.

E, hj com seu txto, viajei fundo em minhas errôneas suposições e descobri essa faceta meio preconceituosa que já tá mais q na hora de ser derrubada...*´pisc

Ótimo texto, como sempre. Parabéns!!

obrigada por compartilhar.

bjs ternos

{Λїtą}_ŞT disse...

Que bom que te ajudei nessa reflexão, ternura.
Penso que no meio, apesar de serem muitos os preconceitos e de todo tipo, a ponto de ficar às vezes sufocante, no caso específico dos casais minha opinião é que existe uma tolerância bem maior que no meio baunilha.
No meu caso, ao menos, não me lembro de ter sofrido preconceito nesse sentido, apesar dos 12 anos de diferença de idade em relação ao meu DONO.
Ponto para nós! Bom seria se essa tolerância se estendesse a outros aspectos também.
E não podemos ignorar a combinação juventude/vitalidade + maturidade/experiência que pode ser muito compensadora para ambos os lados ;)

Beijos e obrigada por vir

Anônimo disse...

Eu já sofri preconceito por ser muito nova e por ser gordinha, o mundo seria melhor se as pessoas se livrassem desses preconceitos e procurassem conhecer melhor o interior das pessoas, o que elas tem para oferecer, gostei muito da postagem do dom das gordinhas e dessa também. Obrigada a vocês, esse blog tem me ajudado muito.Bjks.
Elisa

{Λїtą}_ŞT disse...

Oi Elisa.
Que bom que assinou, ficamos sempre muito felizes quando as pessoas assinam os comentários pq assim podemos chamá-las pelo nome.
Concordo com vc, uma submissa devia ser avaliada por seu nível de submissão e embora cada um tenha direito a seus gostos particulares, vale então o gosto mas o preconceito não.
Obrigada por sua participação.

Beijos

Unknown disse...

Comigo aconteceu o contrário.

Me apaixonei perdidamente por um homem bem mais velho que eu (não é DONO, rsrs). Na época os amigos diziam a ele: "está pagando algo a ela, custeando-a?"

Era esse tipo de comentário que ele ouvia, na maioria das vezes. A inveja, o despeito e o insuportável sentimento de que não somos capazes de usufruir de nossos sonhos...é isso.

E no BDSM, isso tb é acentuado. Outro dia vi uma discussão, sobre submissão e idade em um fórum BDSM/fetichista. Algumas argumentações me enojaram. Pessoas que acreditam piamente que só a beleza e a juventude bastam.

Cada qual com seus pensamentos. Mas eu acredito, que uma pessoa assim, tão apegada em materialidades, não possui capacidade para distinguir/reconhecer "algo" que fuja aos seus instintos.

E talvez, não compreenda o que seria a essência submissa, que para mim, ultrapassa a materialidade de prazeres, gozos, gemidos, gritos e perversões.

Pois sentimentos surgem no BDSM pervertido e sexual e o que fazer com eles? Hum?

Sentimentos afloram, afinidades idem, conexões são realizadas. E para tanto, independe beleza, juventude, status, sexo ou idade. O sentimento "é" e pronto, resta a pessoa vivenciar. Tenho amigos que se casaram com mulheres com mais idade que eles. E estão juntos até hoje. Um, permaneceu ao lado da esposa, até seu falecimento.

Quanto a certos dizeres...isso é só divagação de aprendizes. Deixemos o tempo esse velhinho faceiro e pregador de peças, tomar conta disso. Rsrsrsrs.

Beijos vitinha!!! Muito oportuno seu escrito!

{perséfone core}_DC

{Λїtą}_ŞT disse...

Oi minha linda Perséfone Core, que bom que apareceu com tão valiosa contribuição!
Tb li a discussão em questão e esse texto nem foi baseado nela, estava escrito e programado há tempos, foi de fato uma coincidência.
Seu comentário foi ainda mais oportuno que o texto pq vc disse a verdade do que lemos por aí, muito preconceito em um ambiente que devia ser libertário e acolher a todos pois estamos todos buscando prazeres "diferentes" que muitas vezes o mundo lá fora não compreende.
E alguns acham que para isso não pode ser velha, não pode ser nova, não pode ser gorda, não pode ser muito magra, não pode ser casada, um monte de não-podes que acaba sendo um meio mais excludente que o lá de fora.
Ms no caso específico dos casais com diferença de idade ainda acho que são mais tolerados que no mundo baunilha, talvez pq na maioria das vezes, o chamado "golpe do baú", pela natureza das relações, esteja descartado (tem exceções, claro).

Beijos muito agradecidos por sua participação

luah negra disse...

Olá , vita_ST !

Bom , cada questão tem ao menos dois lados . Nesse caso , tem o lado do preconceito , que vem com o mais visível , que é a diferença de idades e/ou condições financeiras , e tem o lado menos visível ao público em geral , o da realidade do casal e o que mais importa , que é o desejo , o sentimento e preferência de cada um .
E todo resto é especulação , opinião , desconfiança , crítica , julgamento , é a não aceitação de algo que não é preciso aceitar , mas sim , respeitar a escolha alheia .
O preconceito existe e as preferências , também . O bom é que cada vez mais as pessoas estão vivenciando e assumindo suas escolhas independente do julgamento alheio .

Ainda não estive numa relação com uma grande diferença de idades , portanto não sofri desse preconceito .
Contudo que venho expandindo cada vez mais a minha visão de relacionamentos , ainda tenho certa dificuldade de me ver numa relação com alguém bem mais novo que eu . Acredito que isso aconteça mais por uma questão de nivelamento ou proximidade de maturidade , de que por uma questão de diferença idade .

Resumidamente seria isso , mas cabe ainda muita reflexão e expansão desse atual pensamento .

Muito bom que tenha posto a questão em debate , vita !
Beijos .

{Λїtą}_ŞT disse...

Olá, luah negra_JH.

Sim, geralmente quem está vivendo relações com grande diferença de idade está provavelmente feliz e desfrutando dessa disparidade que acaba sendo benéfica por juntar, como disse antes, vitalidade com experiência, uma combinação muito benéfica pq, se no mundo baunilha pode gerar até algum conflito de gerações pelos interesses e momentos de vida diferentes, no BDSM esses conflitos desaparecem pelo fato das relações serem hierárquicas, não há uma igualdade que potencialize esses conflitos; um manda e o outro obedece.
Mas o preconceito de quem está de fora, ao menos no BDSM, é menor em relação aos casais formados. Individualmente há preconceitos de todo tipo, inclusive o de idade.

Beijos e obrigada