Ela não sabia, ela tinha se escondido a vida toda para que ninguém tivesse acesso àquela que julgava tudo o que não queria ser. Se transformou, se moldou, se condicionou a tudo o que os outros queriam dela.
Altiva, imponente, autoritária, alegre, diziam até mesmo que tinha sua própria definição e categoria. Ela era admirada, cortejada, era mais que isso... ela era temida, ninguém ousava confrontá-la, ela só se dobrava à quem queria, desejava, mas só àqueles que não fossem capazes de ultrapassar a linha invisível... ela sabia que poucos poderiam ver, afinal, as pessoas não enxergam além, elas vão até certo ponto, elas não vão além, dá trabalho... era um corredor muito escuro a sua alma, e tinha uma porta escrito NÃO ULTRAPASSE, ninguém ultrapassava, ninguém sabia o que tinha lá dentro, apenas ela...
A outra tinha, muitas vezes, que ser a puta, mas ela não se dobrava, mesmo quando puta se impunha e fazia com que os homens a quisessem, eles a dominavam enquanto ela queria, ela dava prazer, ela não precisava de prazer, o prazer era apenas o poder que ela tinha de tirar o prazer, ela sabia que não era o suficiente, sabia que não a nutria, mas ela precisava continuar, ela não podia parar, aquela bebê medrosa e sem graça não podia sair de onde estava.
Eles diziam tantas coisas, a puta sorria, dizia que era isso mesmo, diziam que iam mostrar o que ela realmente era, uma puta, vadia sem vontades, submissa e escrava às insanidades do “Dono”.... ela seria exposta, seria humilhada na frente dos amigos para que soubessem quem era ela na verdade, ela não se importava, ela se condicionava e aguentar aquilo, até acontecer ela pensaria em algo.
A fortaleza que se fazia de puta ficou sozinha, a vadia estava perdendo as forças, ela lutava, mas Ele dizia que a bebê Dele ganharia dela, mas elas não queriam se confrontar, a puta, a vadia, a cadela na verdade nem existiam, elas apenas eram o que os supostos donos queriam que fosse, e ela se moldava, como um camaleão frente ao perigo, Ele não quis saber, ele queria a mocinha do quarto escuro.
A outra foi na frente, o conheceu, tentou se impor, era tudo em vão, Ele ria dela...
Um dia a outra olhou e viu a mocinha no colo Dele, recebendo carinho, sendo mimada, cuidada, percebeu e sentiu o quanto ela ficava tranquila e em paz naquele colo, ela até sorria, se iluminava deitada no colo do seu Dono.
Elas foram desaparecendo, uma a uma e a bebê Dele, a submissa Dele, só Dele, ficou naquele colo, ela não conseguiria mais, não conseguiria ser de mais ninguém.
Não critico, não julgo, não aponto o dedo, acho que cada um deve ser como quer, como deseja, como lhe dá prazer, mas quando há alguém escondido dentro da alma da gente, aquela pessoa que não quer ser a puta ou a vadia ou mesmo a cadela. Ela quer colo, ser cuidada e se sentir em paz, sentir que pode ser ela mesma, acredite, uma hora essa pessoa vai querer sair do quarto escuro. Muitas vezes nos deparamos com a adaptação, nos deparamos com o condicionamento dos nossos próprios sentimentos, o tempo passa e condicioná-los fica cada vez mais fácil, mas em determinado momento, se encontrar quem te encontre no fundo da alma, isso não será o suficiente.
Ser puta entre quatro paredes pra alguns é fácil, pra outros nem tanto... e para algumas submissas isso é impossível, e apesar de alguns criticarem, isso não é pecado ou errado, cada um tem um jeito de ser e é necessário ser respeitado. Quando a lágrima de uma submissa escorrer no rosto, e seu desejo for deitar no peito do Dono e ali ficar, chame de entrega, quando isso acontecer é pq nenhum outro vai conseguir chegar perto, e caso aconteça, ela estará se mutilando, se matando, e em pedaços ela vai querer voltar para o colo que a completa, que a conhece, mesmo com medo ou assustada, isso não é pecado, é perigoso sim... se mostrar demais é muito perigoso, mas ser você mesmo, é, também, um sentimento pleno e de valor incalculável.
Só queria dizer que não é pq alguém não gosta de ser puta, vadia, cadela, spanking, marcas, humilhação que não seja submissa, a submissão real está na entrega, a entrega que faz chorar a ausência, que faz de cada erro uma dor sem fim, e que se comparada a dor de mil chicotadas, ainda será maior.
Sei que muitos vão criticar, e mtos vão se reconhecer... seja como for... são palavras que jogo ao vento, e que ele as leve à quem for de direito.
Alessandra (†?Noelle¿†®)